LIÇÕES DA VIDA!!!
DESTINO! OH! DESTINO!
Domingo, oito e meia da manhã, levanto-me e dou uma espiada pela janela
do quarto desta pensão, o céu está coberto de nuvens cinzentas espaçadas entre
si.
Espero, que não seja tão negro como foi o Sábado, que me fez andar, de
porta em porta para me abrigar, nem me deixou esta Lisboa admirar, das suas
típicas ruas de fados me lembrar.
Me vem há memória meus sonhos de rapaz, tudo queria ser e tudo eu era
capaz de fazer.
Quis ser bombeiro médico e carpinteiro, artista a tempo inteiro,
fadista por recreio, amante de uma vida por anseio, amar e ser amado sem
receio.
Mas o destino me fez ver que os sonhos não me dão de comer, para este
corpo manter, e trabalhar no duro teve que ser.
Bom, enfim, tudo ou nada perdi, porque mesmo assim ainda vivo aqui, e
os sonhos vivem em mim, mesmo assim.
Deambulando por estas ruas, e de repente lá vem a chuva a me fazer
correr novamente, se não tivesse começado a chover repentinamente, eu não teria
corrido a abrigar-me na livraria e, nesse caso, não teria chocado com ela ao
entrar por ali adentro como um furacão, no meu estilo desajeitado de sempre.
Mas agora lá estou eu de cócoras com os restos do aguaceiro a
escorrerem-me da gabardina, pelas mangas, para as mãos molhadas, para as folhas
de papel espalhadas pelo chão.
Ela faz um esforço para controlar a irritação, pensando que preferia
que eu não tocasse nas folhas para não fazer mais estragos, mas vê-me tão
atrapalhado que não tem coragem de me repreender, penso eu.
Eu, fico a olhar sem palavras sem reacção, olhando estes olhos sem cores e todas as cores eles espalham,
persigo seu rosto de brilho os contornos o seu nariz arrebitado oh os lábios
mais desejados, da cor do sangue a pedirem para serem beijados.
Voltei, ao meu passado, o tempo que procurei a mulher para ser amado, e
a encontro aqui no chão de joelhos e espantado.
Abano a minha cabeça, chocalho as ideias embaralhas.
Eu meio e sem meio deposito-lhe
nas mãos um molho de folhas amarrotadas.
Tem os olhos muito abertos, onde
meus sonhos vem mil promessas.
Peço-lhe mil desculpas. Ela força-se a sorrir, não faz mal, diz.
É um livro?, pergunto-lhe.É, é um manuscrito, me responde ela, com uma
voz
de anjo, tão suave.
Meus sonhos voltam, e seu corpo nu o vejo nos meus braços, toda ela é
puro mel, tentação, meu corpo treme de desejos e emoção, estou apaixonado por
esta tentação.
Meu coração bate pula e salta, canta e canta esta canção Amor de
Perdição.
Me forço a sair, deste ter-por onde meu corpo e mente se foi por.
Boa sorte, espero que o consiga editar, lhe digo eu.
Ela, sorri, e desta vez é um sorriso genuíno.
Sai, mas nossos olhos se seguem, meu coração estremece, e de mim se
padece.
SEGUE ABAIXO
Deambulo por entre as bancadas à espera que a chuva passe, pego num
livro, lei-o vagamente a contracapa,
pousa-o, agarra noutro livro de uma autora consagrada e, ao ver a fotografia
dela na contra-capa, reconheço-a mulher com quem choquei há instantes.
Faço uma careta ao lembrar-me que lhe desejei boa sorte para o livro,
como se fosse uma nova-ta qualquer.
Vou a subir a rua quando o sol irrompe por entre as nuvens e um brilho
novo refulge nas pedras da calçada molhada.
Vou com ela nos meus pensamentos, onde se misturam desejos pecados e
meus tormentos, eu saberia ama-la em todos os meus e seus momentos.
Os turistas retornam às mesas depois da borrasca.
O destino oh destino!
Vejo-a numa dessas mesas debaixo de um chapéu-de-sol, concentrado, a
dar uma ordem às páginas que caíram ao chão.
Ela ergue os olhos e ali estou eu outra vez.
Devo-lhe um duplo pedido de desculpas, falo, por lhe ter espalhado as
folhas pelo chão e por não a ter ajudado a por as folhas em ordem.
Ela me dá aquele seu sorriso como se o sol se estivesse a ri-se para
mim.
Não se quer sentar? Não a incomodo? Desde que não mexa em nada, diz ela
com um ar sério de quem está a brincar.
Prometo que não toco em nada, respondo-lhe eu.
Mas com mil desejos de a tocar, e acariciar desejos loucos de a amar.
Tiro o livro dela do saco e peço-lhe um autógrafo, e se não for um
atrevimento e descaramento da minha pessoa, o seu contacto também!
Olhou com os seus olhos muito
abertos e espantados.
E me premiou com uma linda gargalhada.
Reconheci-a pela fotografia, afirmo, se não tivesse chocado consigo não
o teria comprado, comento, com a cabeça de lado, observando-a a assinar com uma
caligrafia expedita.
Ela fez que sim com a cabeça.
Eu começo pensar que se eu não tivesse chocado com ela, agora não
estaria sentado à sua frente não estaria agora hipnotizado pelos seus olhos
pelos seus lábios pelo seu aberto decote
e a perguntar-me se terá sido o destino que chocou comigo e se ela não
poderá ser o amor procurado e ânsia-do da minha vida, embora nenhum de nós dois
o saiba.
Enfim, o costume.
Vejo a vida como uma uma Lição caprichosa que talvez escreva mais
tarde. mesmo se ainda não conheça o fim da história, mas o principio já tem, me
premiou com o seu contacto.
Destino! Oh, Destino!!!
Deste sempre presente
Continuação de Boa Páscoa
Eu Pensador!
LIÇÕES DA VIDA!!!
NO TEMPO!
Sempre, gostei de observar, e anotar tudo que consigo alcançar, na
vida, gosto de fazer a história das minhas personagens.
Gosto, deste cantinho privilegiado, neste restaurante, onde embarco
toda a sala de jantar, vejo quem entra e quem sai.
Sem, outra maneira, de descrever tudo que observo meu bloco é meu
companheiro e nele sem mesmo querer, tomo nota só para me entreter.
Nesta sala há um silêncio pautado por gestos lentos marca a rotina
tranquila do jantar.
Reparo, à minha frente, a mesa, ocupada pelo casal ensimesmado é como que uma ilha serena
rodeada de águas alvoroçadas.
Entra, um grupo de jovens contrasta com o silêncio desta sala com suas
vozearias animada e se sentam mesmo ao lado deles, e outras mesas mais
completam a sala do restaurante cheia de conversas descontraídas de um sábado à
noite.
Mas a minha atenção recai em cima deste casal, vou começar a imaginar a
história deles, usando a minha pessoa no lugares imaginados, nas suas vidas.
Tanto ele como ela já passaram dos sessenta e vão entrando sem
sobressaltos no ocaso de uma vida que nem sempre foi desenhada pelas escolhas
mais certeiras, ou, enfim, sem arrependimentos.
Mas foram as que foram e ambos acreditam que já não vão a tempo de as
corrigir.
Ele molha uma tosta no pratinho de azeite, lava-a à boca, mastiga-a
demoradamente, em silêncio. Ela observa-o
sem qualquer perplexidade.
Conhece-lhe os silêncios tão bem quanto é capaz de lhe antecipar as
respostas.
Se lhe perguntasse agora o que está a pensar, ele demorariam uma
pequena eternidade a responder para, finalmente, dizer, nada.
Como se fosse possível ser um vazio de ideias enquanto mastiga uma
tosta.
Por isso, não lhe pergunta.
E, no entanto, gostaria que ele dissesse qualquer coisa, nem que fosse
para embirrar, para sacudir a apatia que vai soçobrando a sua companhia.
Entra um casal de jovens,
conversando e sorrindo olhos nos olho,
onde se reflecte aquele indesmentivel amor e desejos.
O olhar do homem se levanta,e
reparo no brilho de saudades daqueles tempos já idos.
A mulher segue o seu olhar, e repara nesse preciso momento, que o jovem
casal se está a beijar, um simples beijo de carinho, de ternura.
A mulher suspira, e desvia o seu olhar, para o seu companheiro, nos
seus olhos se descai uma simples e timída lágrima, e fica suspensa naquele
tempo, penso que a recordar, esses belos tempos seus.
Ele, começa a pensar! Que.
Houve um tempo em que ele ponderou mudar tudo, ousou sonhar de novo.
Quis outro rumo com outra mulher. Mas!
Ainda hoje acredita que era a
mulher da sua vida.
Mas não foi capaz de trocar uma vida pela outra, de enfrentar a dúvida
da mulher certa pela mulher perfeita.
Houve um tempo em que tudo ainda era possível, mas claudicou,
faltou-lhe a coragem.
Ela bebe um gole de água, pousa delicadamente o copo no lugar exacto
onde estava, cumprindo o espírito metódico de quem nem se apercebe.
Ele observa-a a limpar a boca com o guardanapo.
Sabe que o ama mais do que o tolera, mais do que ele a tolera sem
mágoa, pois não tem uma crítica para ela, nada que o incentive a detestá-la.
Reconhece-lhe a dedicação exemplar, apesar da desilusão, apesar de
saber que não merece o amor dela, e a única forma que tem para a recompensar é
cumprir a promessa íntima de ficar com ela até ao fim.
O empregado serve-os.
Comem com vagar, num silêncio entre-cortado por comentários breves que
não dão azo a verdadeiras conversas.
Por vezes, fica-me!
A impressão de que não têm nada
a dizer um ao outro, que não seriam capazes de falarem cinco minutos de um
assunto em comum ou de uma futilidade qualquer.
Pagam a conta, ele ajuda-a a vestir o casaco.
Mas para mim, agora reparo e vejo o quanto eu estava realmente muito
enganado, sobre este maravilhoso casal de idosos.
Enquanto a ajuda a vestir o casaco, e ela lhe compõem o seu, vejo nos
seus olhos nos olhos o verdadeiro carinho e amor de um para o outro, e as mãos
dele acariciam o seu velho rosto.
Ela lhe pousa um lindo e suave beijo nos lábios dele
Vão a sair do restaurante, ele lhe abre a porta vão caminhando ao frio para casa.
Pela montra do restaurante, vejo que ele a abraça, e ela lhe passa o
seu braço para ele também.
Um ligeiro assomo de culpa lava-me,
a reler os meus apontamentos em saber que eles me deram
um sentimento de gratidão por ter presenciado que o silêncio também faz
parte do amor.
Nas Lições que a Vida nos ensina nem tudo o que vemos é a
verdadeira realidade.Devia ter visto e
analisado com os olhos do coração No tempo!
Penso que mais uma vez aprendi outra LIÇÃO na VIDA!!!
Bom-Fim-de-Semana
Deste sempre presente
Eu Pensador! 15-03-2013
LIÇÕES DA VIDA!!!
AUSENTE PASSADO E FUTURO
Eu observo a cidade ao longe por detrás dos óculos de
sol enquanto o comboio atravessa a ponte.
Levo auscultadores, estou ouvindo uma música de
Seal,
You must know me, I’m one of your secrets
I belong to
you And you belong to me
A música, como tudo o que o me rodeia, leva-me
de volta a ela.
Faz uma semana que deixa-mos de nos ver-mos, deixa-mos
para trás os sonhos, as promessas eternas.
Quando nos encontra-mos a primeira vez, eu não
sabia nada dela, era a amiga de uma amiga, sentada ao meu lado por acaso
numa mesa de um restaurante, num jantar de aniversário.
Eram-mos ambos casados, mas nesse jantar
estavamos sozinhos.
Troca-mos números de telefone ao fim da noite.
No dia seguinte, eu envie-lhe uma mensagem.
Ela respondeu-me.
E assim continua-mos pelo dia fora e todos os dias,
contra todos os sentimentos de culpa, todos os impedimentos.
Encontravamo-nos, e nos amava-mos.
Ela disse-me porque não apareceste mais cedo na minha
vida?
Eu respondi-lhe nunca é tarde demais.
Juraramos resolver tudo, de forma que pudessemos
ficar juntos.
O comboio desliza pela ponte.
Ainda não perdi o hábito de chegar mais cedo, com tempo para
tomar o pequeno-almoço com ela, antes de nos separar-mos e de cada
um ir para o seu trabalho. Era assim todas as manhãs, ela esperava-me na
estação e começavamos o dia juntos.
Mas agora ela já não está lá quando eu chego, embora
continue a procurá-la entre a multidão que se apressa à saída do comboio.
Eu separei-me da minha mulher.
Telefonei-lh logo a seguir a contar-lhe.
E, no entanto, depois disso ela perdeu todas as certezas.
Faz uma semana, ela disse-me não vou ficar contigo,
não tenho coragem, não vou ser feliz contigo. Desculpa, podes voltar para a tua
mulher, se quiseres.
O comboio entra lentamente na estação.
Eu permaneço sentado, sem pressa, sem vontade de sair,
tomado por uma angústia.
As portas abrem--se, eu solt0 um suspiro, levanto-me. Sigo
a corrente, atrás das pessoas, ao longo do cais, a pensar que vou ter
mais um dia penoso, sem conseguir concentrar-me.
Mas ao chegar à rua, quando as pessoas à minha frente se
dispersam, vêjo-a parada no mesmo lugar onde costumava esperár-me.
Tem uma t-shirt branca, as mãos enfiadas nos bolsos das
calças de ganga, faz uma expressão de culpa, a meio de um sorriso, encolhe os
ombros em silêncio.
Eu pára à frente dela, surpreendido. Que fazes aqui?
Não consegui ficar longe de ti, responde ela. Saí de casa
esta manhã.
Eu não digo nada, descobrindo que é difícil esquecer.
Ainda me queres? Pergunta ela, aflita. Perdoas-me?
Não te vais arrepender outra vez?
Nunca!
Vem cá, digo eu, abraçando-a.
E ela agarra-se a mim, enquanto murmura nunca, nunca,
nunca...
Estava pensando na tua ausência no passado mas agora
só
quero tua presença no meu futuro.
Basta saber acreditar e ter fé em amar.
Este LIÇÕES da VIDA te o Dedico a quem perdeu a Fé de poder
Amar e ser amada...
Deste vosso sempre presente Boa-semana
Eu Pensador! 19-02-2013
E PARA OS PAIS À TEMPO!
NÃO TEMOS TEMPO?
Para terminar vos deixo este video
Juntamente com o TEXTO será que se aprende algum de BOM!
Sabes, meu filho, até hoje não tive tempo para brincar contigo.
Arranjei tempo para tudo, menos para te ver crescer.
Nunca joguei contigo dominó, damas, xadrez, ou batalha naval.
Eu percebo que tu me procuras, mas sabes meu filho, eu sou muito importante e não tenho tempo.
Sou importante para números, convites sociais e toda uma série de compromissos inadiáveis.
Como largar tudo isto, para ir brincar contigo? Não, não tenho tempo.
Um dia trouxeste o teu caderno escolar para eu ver e ficaste ao meu lado.
Lembras-te? Não te dei atenção e continuei a ler o jornal.
Porque afinal, afinal os problemas internacionais são mais sérios do que os da minha casa.
Nunca vi os teus livros, não conheço a tua professora.
Nem me lembro qual foi a tua primeira palavra.
Mas, tu sabes, eu não tenho tempo.
De que adianta saber as mínimas coisas a teu respeito, se eu tenho outras grandes coisas a saber.
É incrível: como tu cresceste! Estás tão alto! Nem tinha reparado nisso.
Aliás, eu quase que não reparo em nada.
E, na vida agitada, quando tenho tempo, prefiro usá-lo lá fora, porque aqui fico calado diante da televisão.
Porquê? Porque a televisão é importante e informa-me muito.
Sabes, meu filho, a última vez que tive tempo para ti, foi numa noite de amor com a tua mãe.
Eu sei que tu te queixas, eu sei que tu sentes a falta duma palavra, duma pergunta amiga, duma brincadeira, dum chuto na tua bola.
Mas eu não tenho tempo.
Eu sei que sentes a falta de um abraço e de um sorriso, de um passeio a pé, de ir até ao quiosque ao fundo da rua, comprar um jornal, uma revista.
Mas sabes há quanto tempo eu não ando a pé na rua? Não tenho tempo.
Mas tu entendes, eu sou um homem importante.
Tenho de dar atenção a muita gente, eu dependo delas.
Meu filho, tu não entendes nada de comércio.
Na realidade, eu sou um homem sem tempo.
Eu sei que tu ficas triste porque as poucas vezes que falamos é um monólogo: Só eu é que falo.
Eu quero silêncio.
Quero sossego e tu tens a péssima mania de querer brincar com a gente.
Tens a mania de saltar para os braços dos outros.
Filho, eu não tenho tempo para te abraçar.
Não tenho tempo para conversas e brincadeiras de crianças.
Filho, o que é que tu percebes de computadores, comunicação, cibernética, racionalismo? Tu sabes quem é Descartes e Kant? Como é que eu vou parar para falar contigo? Sabes filho.
Não tenho tempo.
Mas o pior de tudo, o pior de tudo é que se tu morresses agora, já neste instante, eu ficava com um peso na consciência.
Porque, até hoje, até hoje não arranjei tempo para brincar contigo.
E, na outra vida, Deus não terá tempo para me deixar, pelo menos, ver-te.
(Neimar de Barros /Adaptação de Vítor de Sousa)
A DIGNIDADE!
O VALOR DE SEREM MULHERES!
O SORRISO
SOFRIMENTO DE AMOR
ALMAS GÊMEAS,
A CORAGEM!
O PASSADO E O PRESENTE
RECONHECER OS MEU ERROS
AMANHÃ É TARDE!!!
RECORDA-ME AMOR
A ESTRANHA
OUTRA VEZ NÃO1
ÓDIO OU AMOR?
A DISCUSSÃO
A primeira vez que eu me lembre, de uma discussão.
O bar está cheio, barulhento, alegre.
Ela tem um pensamento que a prende, uma angústia, mas finge que se está a divertir, mantém um sorriso estóico e conversa animadamente enquanto vai bebericando por uma palhinha uma bebida que um grupo de amigos insistiu em oferecer-lhe.
Ao seu lado, a amiga não finge o bom humor, diverte-se mesmo, vai encorajando com sorrisos provocadores os desconhecidos da outra mesa.
Ela diz-lhe pára com isso.
Não te preocupes que não passa disto, responde-lhe a amiga.
Eu entro em casa, chamo por ela e, como não tenho resposta, procuro-a por todo o lado, confirmei que não está em casa.
Pergunto-me onde andará ela.
Ligo-lhe, mas ela não atende o telefone, envio-lhe uma mensagem a perguntar onde está, mas não recebo resposta.
Vou para o quarto me deixo cair na cama a pensar onde é que ela se terá metido.
Estou mesmo cansado, que fecho os olhos uns segundos e me deixo dormir profundamente.
Ela consulta o telemóvel e vê que eu lhe liguei e lhe enviei uma mensagem.
Mostra-a à amiga, esta encolhe os ombros, faz uma careta engraçada de fatalidade.
A música está tão alta que nem tenta comentar o assunto com a amiga.
Manda-me uma mensagem a dizer-me com quem está, mas não onde está.
Simplesmente estas palavras.
Fico em casa dela, diz, é melhor assim.
Acordo subitamente depois da meia-noite, despertado por uma inquietação.
Olho para o relógio, levanto-me e, ainda estremunhado, procuro o telemóvel na sala
Agora estou mesmo preocupado.
Sento-me no sofá a reler a mensagem, estupidificado, sem perceber porque motivo ela saiu de casa.
É verdade que tivemos uma discussão, mas não me parece que justifique a sua atitude tão intempestiva.
Começo a sentir-me em pânico, a pensar que ela já não me quer, que aproveitou a discussão como pretexto para me abandonar.
Logo-lhe novamente, ela não me atende.
Mando-lhe outra mensagem a pedir-lhe que volte para casa.
A sua resposta me deixa, sem reacção, sem palavras.
NÃO VOU PORQUE JÁ NÃO GOSTAS DE MIM.
Eu fico assustado, lívido.
Lhe respondo claro que gosto, gosto muito, AMO-TE!
Volto a ligar-lhe.
Ela me atende o telefone, Sim?
Eu tenho o coração acelerado quando ela me atende.
Falo mais de trinta minutos, lhe digo eu te amo, peço-lhe volta para casa, convenço-a a dizer-me onde está, sai-o porta a fora, correndo para lá.
Quando ela entra no carro, abraço-a, beijo-a, feito um louco.
Não me deixes nunca mais, protesto, perturbado.
Ela tem lágrimas nos olhos, e me diz.
Não voltes a tratar-me mal, responde-me.
Eu não acho que a tratei mal, foi só uma discussão, já me tinha esquecido disso.
Mas lhe prometi que não voltaria a tratá-la mal.
Na minha nossa maneira de ver as discussões, temos que saber que nem todos as entendem da mesma maneira, nem sempre as palavras faladas da boca para fora tem o mesmo sentido, de quem as fala e de quem as ouve.
Aprendi com esta LIÇÃO DA VIDA que devo pensar primeiro antes de falar.
Como de sempre amigas deste vosso amigo.
Continuação de uma boa Semana.
Eu Pensador! 16-05-2012
O PEREGRINO
Foi este o ponto de viragem.
Sou católico, não praticante, se existe Deus! não ponho em causa, levo uma vida de respeito por todas as doutrinas da Fé.
Acredito sim, numa força, num espírito acima de mim, na minha Fé existe sim, amor, carinho, ternura, e amizade pelos meus semelhantes.
Me vou por nas pernas de um peregrino cheio de Fé, e de esperança, deve ser um pouco difícil mas mesmo assim vou tentar dar o meu melhor.
O que nos leva a tantos sacrifícios em demandas de promessas e milagres,
será o desespero, a dor, e o sofrimento que dentro de nós procura a sua cura num milagre de Nossa Senhora de Fátima, espero bem que sim.
Hoje perdi o tempo as horas, caminho, devagar, lento, Ensaio uma oração, tímida, esquecendo que a minha condição de 'Homem Livre e de Bons Costumes, já me condenou à excomunhão e à condenação eterna.
Os companheiros de peregrinação permanecem a meu lado incitando-me a lutar, mas já nada resulta e apenas me resta desistir.
Parei durante quatro longas horas, sentado numa cadeira de um café, senti-me o homem mais infeliz e solitário do Mundo.
Humilhado e derrotado pelas pernas de que sempre me orgulhei mas que fraquejaram na única ocasião em que deviam ter sido fortes.
Na estrada passam pessoas grupos de gente cansada mas felizes, por estarem no caminho e não na sua beira, na valeta onde eu me encontrava.
Tento erguer-me mas as pernas não me obedecem e a minha fé começa a ressentir-se a cada passo negado.
Ergo os olhos para o céu, e falo com minha mãe e a voz fica-me embargada pelas lágrimas que ameaçam saltar ao reconhecer o meu falhanço.
Começo a receber mensagens de incentivo, de amizade e compreensão e ganho coragem para tentar, para lutar.
Agora, tal como se tivesse recebido uma mensagem de minha mãe, me dizendo ''Eu sei meu filho que tu tens fé e coragem para levares em frente e venceres esta tua caminhada''. Um arrepio percorre-me o corpo todo sinto-me pequeno perante a grandeza do universo e o incomensurável poder divino, assuma ele o nome e a religião que assumir.
Tenho a certeza que conseguirei e é com lágrimas a cair pela cara e inexplicavelmente sem dores nas pernas que consigo cumprir os derradeiros quilómetros da etapa.
Foi aqui este o ponto de viragem, foi este o momento mágico em que soube que iria chegar, foi neste momento que tive a certeza da Sua existência e do Seu poder.
Me faz lembrar, o que muitas vezes se ouve dizer, nos momentos mais dolorosos alguém me carrega.
Caminhando, por esta estrada cheia de tantos peregrinos, homens e mulheres jovens e velhos, crianças, rindo e brincando, não olhando para suas dores e cansaço, muitos descalços com os pés feridos sangrando em bolhas enormes, sem uma leve e pequena queixa.
O resto deste meu percurso foi feito em Paz mas ainda surpreendido por aquela revelação, por aquele momento mágico.
Contudo e em bom rigor, o êxtase aconteceu quando finalmente cheguei a Fátima e até agora, enquanto escrevo este texto, as lágrimas voltaram a cair.
Chegando ao Santuário choro copiosamente, eu e os meus companheiros de jornada.
Olho em volta e vejo que todos choram quando chegam, abraçados num só corpo, numa só emoção.
Tenho agora a certeza de que Ele existe, chamem-lhe Jesus, Jeová, Hallah, Buda, chamem-lhe o que quiserem porque ele é um só.
O 'Grande Arquitecto do Universo' revela-se a todos ainda que de forma variada.
Ao lembrar-me de meus pais, meus filhos e de toda a minha família, e amigas (os) me lembra as palavras proféticas de alguém,,, ''vai e escreve a tua viagem, as tuas sensações e principalmente a evolução espiritual porque vais passar por essa tua demanda em nome da fé.
Agora enquanto caminho por entre milhares de desconhecidos, que afinal ninguém é dono de Deus porque ele é de todos ninguém nada nenhuma religião, credo, pode outorgar-se o direito de dizer quem é de Deus e quem não é.
Estou em Paz e reafirmo, olhando o céu que escurece, que esta ''Andorinha reencontrou, finalmente, a sua Primavera'...
Nestas LIÇÕES DA VIDA é só a minha maneira de homenagear todos os peregrinos, e louvar a sua verdadeira fé, coragem, resistência, nesta sua demanda na procura de um milagre.
Em meu nome, desejo a todos que realmente nossa Senhora de Fátima, vos conceda acima de tudo,
novamente coragem e saúde para voltarem sempre.
Deste vosso sempre
Eu Pensador!
13-05-2012
O ATRASO E ORGULHO!!!
O BILHETE
LIÇÕES DA VIDA
O TELEFONEMA
Não a vejo nem soube nada dela há tanto tempo, desde aquele dia, que se foi embora, e me deixou um simple bilhete de, despedida.
Que agora tenho dúvidas se a vou reconhecer.
Já lá vão tantos anos, sem dar por isso, sem querer, a memória que tenho dela, das feições, da cor dos olhos, do modo como se trata-vã o seu cabelo, tudo se foi esfumando, ficando só uma imagem vaga, o conceito que tenho dela.
E no entanto nunca deixei de a amar.
Mas também isso já não sei se é verdade.
Sei que amo aquilo que ela representou na minha vida, sei a falta que me fez desde que partiu, naquele dia, de quase ter morrido, a angústia devastadora que me deixou, tão forte que me ficou uma vontade irreprimível de a ter de volta.
Mas não está certo se não confundo esse sentimento de perda com amor verdadeiro.
Também sei que a verdade e a culpa pode ter sido minha, mas ela também tem muita culpa, foi ela que me deixou, me abandonou.
Estaciono o carro no parque de estacionamento do aeroporto, saio, dirijo-me para as Chegadas.
Entro no átrio e sinto logo a melancolia agradável das viagens de férias ao escutar o rumor festivo das pessoas que esperam alguém.
Caminho ao longo do átrio, passo pele livraria bem iluminada, onde pessoas com malas a tiracolo folheiam livros,
pegam num jornal.
Agora me lembrei, ainda não li o jornal de hoje, mas penso para que começo a ficar farto de ler tantas e tantas notícias de miséria, roubos, violações, mortes, corrupções e, outras mais.
O café logo ao lado está cheio de gente sentada nas poucas mesas disponíveis.
Cruzo-me com uma criança que foge de outra e vem enfiar-se debaixo de minhas pernas com um risinho estridente de excitação.
Dou um pequeno salto para o lado, desviando-me do rapazinho sorridente.
Olho para a esquerda e vejo o balcão de informação turística, para a direita e vejo a rampa e a porta de onde saem os passageiros que aterraram há momentos.
O átrio é arejado, respiro a frescura do Inverno mas sim artificial, reflecte o brilho das estruturas metálicas.
Detenho-me defronte do quadro grande que informa o estado dos voos, procuro o dela, que vem de Bruxelas, aterrou há cinco minutos.
Espero que um funcionário acabe de passar com uma fila interminável de carrinhos de transporte de malas encaixados uns nos outros.
Dou uns passos em frente e continuo a esperar, vou mudando o peso do corpo de uma perna para a outra, estou nervoso, como se fosse o meu primeiro encontro, como se não conhecesse o mais íntimo dela.
Uma semana atrás estava na minha vida normal e não podia imaginar isto.
Depois de receber o seu telefonema a dizer que voltava, definitivamente, e se a vinha esperar, fiquei paralisado, deixei de pensar, tantos eram os pensamentos dentro de minha mente, levei um tempo para lhe responder,SIM te vou esperar, foi a resposta dada.
Desde aí conversa-mos ao telefone uma, duas vezes por dia, trocamos mensagens com um entusiasmo frenético, fomos falando de tudo o que ficara por falar, e agora aqui estou eu.
Ela passa pela porta que dá acesso ao átrio, eu aceno-lhe, acompanho o seu movimento pela rampa de saída, aliviado por a reconhecer, e ver que está linda, e seu sorriso continua aberto e grande, como era naquele nosso tempo que ficou lá muito atrás.
Encontra-mo-nos, frente a frente, olhos nos olhos, abraça-mo-nos, beija-mo-nos, e as minhas dúvidas desfazem-se nesse beijo ansiado.
Amo-a, não mudou nada, foi só o tempo que passou.
Será, que é o fim da minha história, ou será o princípio de uma nova história de amor!!! Ah ver vamos....
26-02-2012
LIÇÕES DA VIDA!!!
Eu acordo já derrotado.
Tudo me desanima: o corredor escuro, as paredes decadentes, as obras madrugadoras do vizinho.
Tomo o pequeno-almoço na companhia de minha companheira, ambos tolhidos num silêncio obstinado.
Há muito que se suportam apenas, enredados numa indiferença mútua.
Saiu de casa debaixo do cinzento fúnebre de um céu de Inverno, de uma chuvinha mesquinha, exasperado por não me lembrar onde estacionei ontem.
Quando encontro o carro, ligo o motor, arranco devagar, conduzo ensonado, vou pelo trânsito entorpecido numa dormência matinal, irritado com a lentidão das filas, dos semáforos, com o relógio.
Vou atrasar-me, Vinte minutos para me libertar da confusão da cidade.
Entro na auto-estrada, o trânsito desanuvia, acelero um pouco.
Talvez ainda consiga chegar a horas, penso, esperançado.
Os carros a alta velocidade levantam uma nuvem, uma cortina de água que me impede de ver a estrada, abriga-me a levantar o pé, a conduzir mais lentamente.
Vou a pensar na minha companheira, na nossa vida que parou à espera que aconteça alguma coisa, não sei bem o quê.
Sinto uma saudade do passado, de nós como éramos, Nisto, um carro à frente sai descontrolado da sua faixa atravessa a estrada na diagonal, esmaga-se contra o separador central, é catapultado novamente para o meio da estrada, embate noutro, levando-o a rodar como um pião, a bater num terceiro automóvel.
Os carros bailam no lençol de chuva que cobre o asfalto e é tudo tão vertiginoso, tão irreal.
Sei que não vou conseguir evitar o choque, que, provavelmente, não vou sobreviver.
Penso que vou morrer e cobre-me uma tristeza lúgubre, ao mesmo tempo que manobro o carro movido pelo instinto, carrego no travão, sente-o derrapar, tiro logo o pé, esgueiro-me por um túnel caótico que surge milagrosamente no meu caminho, passo sem um toque, sem um risco e, de repente, não tenho carros na minha frente e a estrada abre-se desimpedida e segura, deixando para trás uma confusão de destroços mortais.
Petrificado num espanto mudo, em estado de choque, lívido, levo o carro quase parado.
Lentamente, os nós dos dedos, brancos de tanto apertar o volante, vão descomprimindo, o coração vai abrandando, as tremuras que me percorrem o corpo cessam.
Passou mais de uma hora, regresso a casa, E entretanto penso em tudo, na vida estúpida, no tempo perdido, Abro a porta, chamo por ela.
Tenho tanto para lhe dizer, tanto para recuperar.
Procuro-a pela casa toda, mas acabo sentado na cama em frente ao armário aberto, sem a roupa dela, com uma simples nota de despedida na mão caída no colo.
Ela foi embora, precisamente hoje, e eu, com os olhos postos no vazio, perplexo, só consigo pensar que devia sim ter mudado a minha vida com antecedência e não ter deixado chegado a um fim, que devia ter sido o novo princípio de um novo amor.
Com esta simples história quero só fazer uma chamada...
Sim uma história, mas quantas iguais a esta não são mesmo REAIS!!!
Não guarde para amanhã, o que pode e deve resolver HOJE...
Beijos deste sempre amigo
Eu Pensador!
A CAROLINA E OS TERRAMOTOS
A Carolina há muito tempo que anda a pedir um leitor de MP3 para o Natal.
No outro dia estava a folhear um daqueles catálogos que vêm com os jornais e encontrou um que lhe agradava.
Depois de avaliar se o seu preço era compatível com o dinheiro que tem vindo a juntar das semanadas, perFiquei espantado com a questão, porque ela não costuma ouvir rádio, nem sequer no carro.
Mas disse-lhe que sim, que era habitual os leitores de MP3 terem rádio.
Só que a mãe, que é mais curiosa, perguntou-lhe para que é que ela queria saber isso.
- É preferível ter rádio na ocasião de um terramoto.
Ora cá está. A minha filha quer um MP3 tanto para ouvir a Shakira como para se manter informada sobre o esforço das autoridades caso Lisboa volte a ser arrasada por um sismo de magnitude 9 na escala de Richter
E acrescentou. "Também convinha andar com umas pilhas suplentes".
Temi por momentos estar a criar uma miúda apocalíptica, daquelas que acham que o mundo vai acabar em 2013 e só 144 eleitos irão safar-se.
Mas depois lembrei-me que dias antes a Carolina também já me tinha explicado o que fazer em caso de incêndio, e de como convinha tactear as superfícies com as costas das mãos para não correr o risco de ficar com as palmas coladas a um objecto ao rubro - uma descrição tétrica que escutei com grande apreço.
Ou seja: a Carolina fez uma visita de estudo à Protecção Civil e levou as explicações mesmo a sério.
Ela está numa etapa da sua vida (segunda classe) em que não só aprende variadíssimas coisas em simultâneo e em catadupa, como tudo aquilo é como se ficasse guardado à superfície da sua cabeça - a memória é ainda muito curta e o que não lhe falta é espaço para armazenar informação.
Hoje em dia, já quase nenhum de nós faz ideia do que é preciso fazer em caso de terramoto, porque instintivamente sabemos que é tão pouco provável que tal venha a acontecer no espaço das nossas vidas que ocupamos a cabeça com coisas que nos são mais úteis no dia-a-dia.
Mas na cabeça de uma criança que ouve pela primeira vez falar de terramotos, a probabilidade de eles acontecerem é tão grande como chover amanhã de manhã ou um ovni aterrar no quintal.
Portanto, o melhor é mesmo estar preparado.
A Carolina há-de ter o seu MP3 - e com rádio claro..
09-02-2012
Versão alemã
A formiga trabalha durante todo o Verão debaixo de Sol. Constrói a sua casa e
enche-a de provisões para o Inverno.
A cigarra acha que a formiga é burra, ri, vai para a praia, bebe umas
bejecas, vai ao Rock in Rio e deixa o tempo passar.
Quando chega o Inverno a formiga está quentinha e bem alimentada. A cigarra
está cheia de frio, não tem casa nem comida e morre de fome.
Fim
Versão portuguesa
A formiga trabalha durante todo o Verão debaixo de Sol. Constrói a sua casa e enche-a de provisões para o Inverno.
A cigarra acha que a formiga é burra, ri, vai para a praia, bebe umas bejecas, vai ao Rock in Rio e deixa o tempo passar.
Quando chega o Inverno a formiga está quentinha e bem alimentada.
A cigarra, cheia de frio, organiza uma conferência de imprensa e pergunta porque é que a formiga tem o direito de estar quentinha e bem alimentada enquanto as pobres cigarras, que não tiveram sorte na vida, têm fome e frio.
A televisão organiza emissões em directo que mostram a cigarra a tremer de frio e esfomeada ao mesmo tempo que exibem vídeos da formiga em casa, toda quentinha, a comer o seu jantar com uma mesa cheia de coisas boas à sua frente.
A opinião pública tuga escandaliza-se porque não é justo que uns passem fome enquanto outros vivem no bem bom. As associações anti pobreza manifestam-se diante da casa da formiga. Os jornalistas organizam entrevistas e mesas redondas com montes de comentadores que comentam a forma injusta como a formiga enriqueceu à custa da cigarra e exigem ao Governo que aumente os impostos da formiga para contribuir para a solidariedade social.
A CGTP, o PCP, o BE, os Verdes, a Geração à Rasca, os Indignados e a ala esquerda do PS com a Helena Roseta e a Ana Gomes à frente e o apoio implícito do Mário Soares organizam manifestações diante da casa da formiga.
Os funcionários públicos e os transportes decidem fazer uma greve de solidariedade de uma hora por dia (os transportes à hora de ponta) de duração ilimitada.
Fernando Rosas escreve um livro que demonstra as ligações da formiga com os nazis de Auschwitz.
Para responder às sondagens o Governo faz passar uma lei sobre a igualdade económica e outra de anti descriminação (esta com efeitos retroactivos ao princípio do Verão).
Os impostos da formiga são aumentados sete vezes e simultaneamente é multada por não ter dado emprego à cigarra. A casa da formiga é confiscada pelas Finanças porque a formiga não tem dinheiro que chegue para pagar os impostos e a multa.
A formiga abandona Portugal e vai-se instalar na Suíça onde, passado pouco tempo, começa a contribuir para o desenvolvimento da economia local.
A televisão faz uma reportagem sobre a cigarra, agora instalada na casa da formiga e a comer os bens que aquela teve de deixar para trás.
Embora a Primavera ainda venha longe já conseguiu dar cabo das provisões todas organizando umas "parties" com os amigos e umas "raves" com os artistas e escritores progressistas que duram até de madrugada. Sérgio Godinho compõe a canção de protesto "Formiga fascista, inimiga do artista...
A antiga casa da formiga deteriora-se rapidamente porque a cigarra está-se nas tintas para a sua conservação. Em vez disso queixa-se que o Governo não faz nada para manter a casa como deve de ser. É nomeada uma comissão de inquérito para averiguar as causas da decrepitude da casa da formiga. O custo da comissão (interpartidária mais parceiros sociais) vai para o Orçamento de Estado: são 3 milhões de euros por ano.
Enquanto a comissão prepara a primeira reunião para daí a três meses, a cigarra morre de overdose.
Rui Tavares comenta no Público a incapacidade do Governo para corrigir o problema da desigualdade social e para evitar as causas que levaram a cigarra à depressão e ao suicídio.
A casa da formiga, ao abandono, é ocupada por um bando de baratas, imigrantes ilegais, que há já dois anos que foram intimadas a sair do País mas que decidiram cá ficar, dedicando-se ao tráfego da droga e a aterrorizar a vizinhança.
Ana Gomes um pouco a despropósito afirma que as carências da integração social se devem à compra dos submarinos, faz uma relação que só ela entende entre as baratas ilegais e os voos da CIA e aproveita para insultar Paulo Portas.
Entretanto o Governo felicita-se pela diversidade cultural do País e pela sua aptidão para integrar harmoniosamente as diferenças sociais e as contribuições das diversas comunidades que nele encontraram uma vida melhor.
A formiga, entretanto, refez a vida na Suíça e está quase milionária...
Fim
Versão portuguesa
A formiga trabalha durante todo o Verão debaixo de Sol. Constrói a sua casa e enche-a de provisões para o Inverno.
A cigarra acha que a formiga é burra, ri, vai para a praia, bebe umas bejecas, vai ao Rock in Rio e deixa o tempo passar.
Quando chega o Inverno a formiga está quentinha e bem alimentada.
A cigarra, cheia de frio, organiza uma conferência de imprensa e pergunta porque é que a formiga tem o direito de estar quentinha e bem alimentada enquanto as pobres cigarras, que não tiveram sorte na vida, têm fome e frio.
A televisão organiza emissões em directo que mostram a cigarra a tremer de frio e esfomeada ao mesmo tempo que exibem vídeos da formiga em casa, toda quentinha, a comer o seu jantar com uma mesa cheia de coisas boas à sua frente.
A opinião pública tuga escandaliza-se porque não é justo que uns passem fome enquanto outros vivem no bem bom. As associações anti pobreza manifestam-se diante da casa da formiga. Os jornalistas organizam entrevistas e mesas redondas com montes de comentadores que comentam a forma injusta como a formiga enriqueceu à custa da cigarra e exigem ao Governo que aumente os impostos da formiga para contribuir para a solidariedade social.
A CGTP, o PCP, o BE, os Verdes, a Geração à Rasca, os Indignados e a ala esquerda do PS com a Helena Roseta e a Ana Gomes à frente e o apoio implícito do Mário Soares organizam manifestações diante da casa da formiga.
Os funcionários públicos e os transportes decidem fazer uma greve de solidariedade de uma hora por dia (os transportes à hora de ponta) de duração ilimitada.
Fernando Rosas escreve um livro que demonstra as ligações da formiga com os nazis de Auschwitz.
Para responder às sondagens o Governo faz passar uma lei sobre a igualdade económica e outra de anti descriminação (esta com efeitos retroactivos ao princípio do Verão).
Os impostos da formiga são aumentados sete vezes e simultaneamente é multada por não ter dado emprego à cigarra. A casa da formiga é confiscada pelas Finanças porque a formiga não tem dinheiro que chegue para pagar os impostos e a multa.
A formiga abandona Portugal e vai-se instalar na Suíça onde, passado pouco tempo, começa a contribuir para o desenvolvimento da economia local.
A televisão faz uma reportagem sobre a cigarra, agora instalada na casa da formiga e a comer os bens que aquela teve de deixar para trás.
Embora a Primavera ainda venha longe já conseguiu dar cabo das provisões todas organizando umas "parties" com os amigos e umas "raves" com os artistas e escritores progressistas que duram até de madrugada. Sérgio Godinho compõe a canção de protesto "Formiga fascista, inimiga do artista...
A antiga casa da formiga deteriora-se rapidamente porque a cigarra está-se nas tintas para a sua conservação. Em vez disso queixa-se que o Governo não faz nada para manter a casa como deve de ser. É nomeada uma comissão de inquérito para averiguar as causas da decrepitude da casa da formiga. O custo da comissão (interpartidária mais parceiros sociais) vai para o Orçamento de Estado: são 3 milhões de euros por ano.
Enquanto a comissão prepara a primeira reunião para daí a três meses, a cigarra morre de overdose.
Rui Tavares comenta no Público a incapacidade do Governo para corrigir o problema da desigualdade social e para evitar as causas que levaram a cigarra à depressão e ao suicídio.
A casa da formiga, ao abandono, é ocupada por um bando de baratas, imigrantes ilegais, que há já dois anos que foram intimadas a sair do País mas que decidiram cá ficar, dedicando-se ao tráfego da droga e a aterrorizar a vizinhança.
Ana Gomes um pouco a despropósito afirma que as carências da integração social se devem à compra dos submarinos, faz uma relação que só ela entende entre as baratas ilegais e os voos da CIA e aproveita para insultar Paulo Portas.
Entretanto o Governo felicita-se pela diversidade cultural do País e pela sua aptidão para integrar harmoniosamente as diferenças sociais e as contribuições das diversas comunidades que nele encontraram uma vida melhor.
A formiga, entretanto, refez a vida na Suíça e está quase milionária...
08-02-2012
É FEIA ! É BONITA ! É FEIO ! OU BONITO !
EU SOU COMO SOU ME ACEITO COMO SOU...
E VOCÊ!!!
A MINHA E VOSSA HISTÓRIA DA VIDA EM SI!!!
Alguém, muito desanimada(o), esse Alguém somos nós
entrou numa igreja e em determinado momento disse para Deus:"Senhor, estou aqui porque nas igrejas não há espelhos, pois nunca me satisfeito com minha aparência".
Subitamente uma folha de papel caiu aos seus pés, vinda do alto do templo.
Esse alguém, ficou atónito,ele a apanhou e nela viu a seguinte mensagem!.
Minha criatura, nenhuma das minhas criações veio ou ficou sem beleza, pois a feirúa é invenção dos seres humanos e não minha.
Não importa se seu corpo é gordo ou magro.
Ele é o templo do espírito e este é eterno.
Não importa se os braços são longos ou curtos.
Sua função é o desempenho do trabalho honesto.
Não importa se as suas mãos são delicadas ou grosseiras.
Sua função é de dar e receber o Bem.
Não importa a aparência dos pés.
Sua função é tomar o rumo do Amor e da Humildade.
Não importa o tipo de cabelo, e se ele existe ou não numa cabeça.
O que importa são os pensamentos que por ela passam.
Não importa a forma ou a cor dos olhos.
O que importa é que eles vejam o valor da Vida.
Não importa a forma o formato do nariz.
O que importa é inspirar e expirar a Fé.
Não importa se a boca é graciosa ou sem atrativos.
O que importa sãos as palavras que saem dela.
Esse alguém ainda atônito, dirigiu-se para a porta de saída, que tinha algumas partes de vidro.
Nesse exacto momento sentiu que toda a sua vida se modificaria.
Havia esta mensagem na porta aderida.
"Veja com bons olhos seus reflexos neste vidro e lembre-se de tudo que deixei escrito.
Observe que não há uma única linha sobre Mim.
Que afirma que eu sou BONITO!
Assim minhas amigas(os)
Eu sei que sou bonito e perfeito porque me amo realmente como eu SOU.
E você já se viu bem, com os olhos de seu coração!
Como sempre minhas amizades um grande abraço cheio de CARINHO e TERNURA .
Deste vosso sempre Eu Pensador! beijos
ENTREVISTA DE EMPREGO
Assim que o conhece, decide que não gosta dele.
Acha-o presunçoso, demasiado seguro de si.
É atraente, mas a sua atitude deixa-a pouco à-vontade.
Em contrapartida, ele não se apercebe que provoca esse efeito nela.
Pergunta-lhe coisas da vida dela, quantos anos tem, que curso tirou, a sua experiência profissional, porque deixou o emprego anterior.
Porque me pagavam mal e não gostava do que fazia, responde-lhe.
E o que é que ela gosta?, pergunta-lhe num tom jovial.
Sente-se a corar e odeia-o por isso.
Remexe-se na cadeira, entrelaça os dedos no colo.
A pergunta soa-lhe demasiado inconveniente, nem sabe bem porquê.
Não pode dizer a verdade, ou pode? Que quer simplesmente um emprego,
não interessa o quê.
Será que vai achá-la estúpida, sem ambição? Neste momento, diz, como as coisas estão, um emprego que pague as contas já é suficiente.
Ele faz um sorriso que lhe parece constrange-do-a-mente condescendente.
Mas,no fim, oferece-lhe um lugar de secretária.
Ela aceita, embora vá para casa contrariada.
Contudo, no decorrer de duas semanas a embirração inicial foi-se atenuando
e já o vê com outros olhos.
Ele trata-a bem, gosta dela e não o esconde.
É solteiro, não tem namorada, nada fixo, pelo menos.
Ficam a trabalhar até tarde, ele leva-a casa, beija-a, passam a noite juntos, mas de manhã
ela acorda e ele foi-se embora.
Mais tarde, no escritório, ele age como se nada tivesse acontecido.
Nos dias seguintes, sente-se incomodada com o seu comportamento, pois parece
evitá-la o tempo todo.
A relação deles torna-se estranha, até que ele parte numa viagem de negócios.
Uma semana mais tarde, ao regressar, fica a saber que ela se despediu.
Quando partiu de viagem, sentiu-se aliviado, mas depois teve saudades dela, da sua presença, de a ouvir rir...
Descobriu que gostava mais dela do que quis admitir.
Ela está na sala, a ler um livro depois do jantar.
Tocam à campainha, olha para o relógio, admirada, vai ver quem é tão tarde.
Olá, cheguei hoje, diz ele quando lhe abre a porta, e disseram-me que te foste embora.
Ela sente as pernas fraque-jarem.
O que é que vieste aqui fazer?
Vim saber porque te foste embora.
Porque tu não me querias lá responde.
Tenho pensado em ti todos os dias, diz ele, ignorando o comentário, e hoje, quando cheguei ao aeroporto, fui directo ao escritório para te ver.
Foste?, espanta-se.
Fui, trouxe-te um presente.
Tira uma caixa do bolso, abre-a, é um anel com pequenas pedras brilhantes.
Ele segura-lhe a mão, enfia-lhe o anel no dedo.
Ela tem o coração num alvoroço.
Eu pensei que..., começou a dizer,
mas ele abraça-a, beija-a e pede-lhe que volte amanhã, voltas,?
E então ela abana a cabeça, volto, diz quase sem voz, amanhã volto.
FALAR DE SEXO À MINHA FILHA
Foi quando a Carolina chegou até mim com um desenho muito lindo do 'Jack' e da 'Rose'
que eu percebi que se calhar não lhe devia ter mostrado ofilme 'Titanic; No seu desenho a 'Rose' e o 'Jack´estavam todos nus, mas nus mesmo,nu integral, compilinha de Leonardo de DiCaprio incluída.
Ainda hesitei em perguntar o que era aquilo.
Mas perguntei, "O...O...O que é isto, Carolina?". "São o 'Jack' e a 'Rose', no carro, naquela parte em que eles estavam a fazer sexy.
Ai, ai, ai, pensei eu, não sei se estou preparado para ter conversas sobre fazer sexy com uma filha de sete anos.
Nem, já agora, onde é que ela aprendeu o que é que fazer sexy queria dizer, ou como é que inferiu que eles estavam a fazer sexy só por aquilo que se vê no filme (que não, não mostra a pilinha do Leonardo DiCaprio).
Os miúdos de hoje em dia são espertos demais - e foi levado por esse entusiasmo que eu e a minha cara metade lhes decidimos mostrar três horas de filme em inglês (com tradução simultânea).
A professora do Tomás começou a falar do 'Titanic' no infantário e o miúdo ganhou um súbito deslumbre pelo barco.
Ao fim de várias conversas sobre o tema mais um livro com imensas fotografias e ilustrações, aproveitámos um fim-de-semana para uma exibição doméstica do filme de James Cameron, que eu já não via há dez anos.
Cada um reagiu à sua maneira.
O Gui (três anos) até se aguentou à empreitada, mas de vez em quando ia dar uns passeios pela casa para desanuviar.
A sorte dos passageiros não se incluía entre as suas principais preocupações.
O Tomás, cinco, esteve muito atento ao filme, mas sempre mais interessado no barco - as quatro chaminés, a farda do capitão que era de cor diferente da do livro - do que nas pessoas,
com excepção do 'Fabrizio' (o amigo que entra no barco com 'Jack'), uma personagem secundaríssima por quem ele desenvolveu uma estranha afinidade.
A Carolina foi diferente, e acho que essa diferença me deveria ter preparado para o desenho do 'Jack' e da 'Rose;
A minha filha está crescida: adorou a historia de amor e chorou como uma madaléna quando o barco começou a ir ao fundo.
Nunca a tinha visto assim.
"Isto é só um filme", dissemos-lhe eu e a mãe a certa altura.
"Mas aconteceu mesmo!", respondeu ela.
"Morreu tanta gente..."Pois morreu.
E a Carolina já começa a perceber o que a morte significa.
Suponho que o sexy venha a seguir.
No meu ponto de vista, estou mesmo a ficar ultrapassado e a caminhar depressa demais para o tal simbolismo PDI... Já não me deixa pensar e dar respostas convincentes...
ENGANO
Uma estrada de terra batida sem movimento corre paralela ao campo onde ele trabalha.
Tem um monte, alguns hectares, máquinas agrícolas, e é isso que faz.
Antes, ia a Lisboa ao fim-de-semana, ao encontro dela.
Ficava em sua casa, o tempo era escasso, esgotava-se.
Agora já não vai.
Pediu-a em casamento, ela recusou, porque não queria a vida que ele tinha para lhe oferecer.
Separam-se, sem soluções, mas com uma imensa mágoa.
Numa sexta-feira depois, um velho amigo em apuros dormiu em casa dela, no sofá.
Na manhã seguinte, ele apareceu de surpresa, não era para ir, mas não conseguia esquece-la.
Toca à campainha, o amigo dela vem abrir a porta em tronco nu, jeans, descalço.
Ele sente que o coração lhe pára num segundo interminável, depois pede desculpa, enganei-me, diz, e afasta-se rapidamente.
O outro tenta chamá-lo, dizer-lhe que talvez não esteja enganado, mas ele não ouve nada.
Encolhe os ombros, fecha a porta, ela pergunta lá de dentro quem era, o amigo responde ninguém, era engano.
Durante a semana, ela telefona-lhe.
Precisa de falar com ele, dizer-lhe que o ama, que terão de arranjar uma solução.
Mas ele não atende.
Ela insiste vezes sem conta, até receber uma mensagem terminante: não tentes contactar-me nunca mais, esquece-me.
Passa um ano.
Ela anda às compras no supermercado e encontra o amigo, que nunca mais viu.
Na caixa, ela abre a carteira para pagar, mas atrapalha-se e deixa-a cair.
Abaixam-se os dois para apanhar os papéis espalhados, uma fotografia que ele segura.
Quem é este?, espanta-se.
Ela pega na velha fotografia, tapa a boca com uma mão, pertubada, não interessa, responde, enfiando atabalhoadamente os papéis na carteira, a fotografia.
Apressa-se a pagar, vai-se embora.
E ele, como a empregada da caixa não se despacha, deixa tudo e corre atrás dela.
Alcança-a no parque de estacionamento, segura-a por um braço, ela vira-se com os olhos marejados e ele diz-lhe espera, tenho uma coisa importante para te dizer, que só percebi agora.
Ele conduz um tractor, deixando longos sulcos no rasto da máquina.
Um jipe aproxima-se, trava, as rodas escorregam na terra, levantam uma nuvem de poeira que o envolve.
O jipe arranca e, quando a poeira assenta, lá está ela, sozinha na estrada.
Ele desliga o motor, surpreendido, salta do tractor, encontram-se a meio caminho.
Que fazes aqui?, pergunta-lhe.
Não digas nada, ouve só o que tenho para te dizer.
Esta manhã soube uma coisa.... Conta-lhe o que se passou hoje, explica-lhe o que se passou há um ano.
Ele escuta-a, perplexo.
Não sei se tens alguém, diz ela, já passou tanto tempo, mas tinha de vir contar isto... Ele abana a cabeça, responde-lhe que não tem ninguém.
Também não, diz ela, nunca mais tive.
Limpa as lágrimas com as costas da mão.
Ele abraça-a.
Nem eu, diz-lhe ao ouvido, não fui capaz, só te queria a ti, meu amor.
UM SORRISO
Um dia,muito mais tarde, ele morreu ali na sala, na sua cadeira de sempre, que preferia por causa das costas.
Ela disse-lhe vou à rua comprar o pão, e quando voltou encontrou-o de olhos abertos, um olhar quase sonhador, um sorriso nos lábios.
Morreu feliz e deixou-lhe um último sorriso, como que a dizer não te preocupes porque tive uma boa vida contigo.
Não contou isto a ninguém para que não pensassem que era um devaneio de uma velha à deriva no seu desgosto.
Vinte e dois anos antes, ela vaguei pelo corredor solene de uma livraria vazia à hora de almoço.
Tem um livro apertado contra o peito.
O corredor acaba num gradeamento.
Ela aproxima-se daquela varanda interior e ali se queda a cismar de olhos perdidos para lá da montra do fundo da loja.
O livro queima-lhe as entranhas, numa angústia inexplicável ao fim de cinco anos de pesado silêncio.
Então, volta-se por um pressentimento e ali está ele de pé a sorrir-lhe do outro lado do corredor.
Bem me parecia que eras tu, diz ele com a sua voz alta de tenor alegre que, ela recorda-se, enchia uma sala.
Essa voz enorme tem uma familiaríade surpreendente, como se não tivesse passado cinco anos.
Nesses cinco segundos, enquanto a reconhece e percorre os curtos metros do corredor, ela pergunta-se quais seriam as probabilidades de o encontrar, estando a pensar nele com aquele livro na mão.
Os olhos ficam húmidos de uma emoção contrariada, as pernas tremem-lhe numa traição do corpo à mente.
Ele vem de lá contente, segura-lhe os braços com as suas mãos grandes, beija-a no rosto.
Que bom que é encontrar-te, exclama, afastando-se com os braços esticados, segurando-a ainda pelos ombros, teatral, não soubesse ela que ele é mesmo assim: naturalmente espalhafatoso.
Repara que ela tem consigo o livro preferido dele.
Ela sente-se corar como uma menina apanhada em flagrante.
Estava a pensar em ti, confessa numa voz sumida, embargada pelo alvoroço que vai dentro de si, incapaz de assumir a indiferença que calculou tantas vezes nos seus pensamentos implacáveis.
Estou a ver que sim, diz ele, inconveníentemente triunfante.
Convida-a para um café, ela aceita sem vontade própria, furiosa por não dizer que não.
Ela mal fala, entupida na sua perplexidade, ele conta-lhe a vida, eloquente, os cinco anos, o casamento falhado,o emprego bem sucedido.
Quero ver-te outra vez, afirma.
Não se, hesita, porque me deixaste?, pergunta-lhe sem pensar.
Porque sou estúpido, responde ele, simplesmente, e nem duas semanas mais tarde acrescenta: desta vez vou compensar-te, vou fazer-te feliz e, quando morrer ao teu lado daqui a muitos anos, hei-de estar a sorrir para que saibas que também fui feliz contigo.
POR SIM POR QUE NÃO?
Ela desce o parque Eduardo VII a meio da tarde.
E depois, o Marquês e a Liberdade.
Mal conhece a cidade e é tudo novo.
Está sozinha, veio trabalhar para Lisboa e ainda não se dá com ninguém.
Chega à Baixa e senta-se no rebordo do tanque que rodeia a fonte.
Abre uma lata de refrigerante ainda fresca que comprou algures.
Veio para recomeçar, um emprego, um pequeno apartamento arrendado que terá de mobilar com o tempo e conforme as disponibilidades.
O ordenado é à justa.
Trabalha num centro comercial, numa loja, onde há de tudo para o lar, mas ela própria só poderá comprar alguns desses artigos por mês.
Sai de casa mais cedo e aproveita o tempo livre para passear enquanto se dirige para o emprego.
Poupa dinheiro e aproveita para conhecer a cidade, aqueles recantos que só se dá por eles a pé.
Sobe ao Chiado, embrenha-se na multidão que entra no centro comercial.
Tem um longo turno pela frente, mas com sorte, terá tantos clientes para atender que não lhe sobrará tempo para divagar sobre os amores falhados.
Agora é novamente uma mulher sozinha, enfim, prefere pensar que é uma mulher livre, embora, na verdade, não se tenha exactamente libertado do desgosto que a trouxe ali.
Um homem engravatado, jovem, pergunta-lhe quanto custa uma caneca de loiça.
Ela diz-lhe o preço.
Ele sorri-lhe, vou levar, afirma.
Ela assente.
Tem o seu nome inscrito ao peito e ele toma nota mentalmente.
No dia seguinte, regressa, vai ter com ela, trata-a pelo nome, entrega-lhe mais uma caneca, diz que a quer comprar.
Ela passa o seu cartão multibanco na máquina e repara no nome dele inscrito no cartão.
No dia seguinte aparece ao fim da tarde para comprar outra caneca.
Outra?!, exclama ela divertida com o inusitado da situação.
Ele esboça um largo sorriso, faz que sim com a cabeça e surpreende-a com um convite para jantar.
Gostava de a conhecer melhor, diz, pode ser aqui mesmo, no centro comercial.
Ela ri-se, lisonjeada com o convite, mas responde-lhe que não.
Ele ri-se também e tenta convencê-la.
Ela dá uma desculpa qualquer sobre o trabalho e ele não insiste.
Mas volta para comprar outra caneca no dia seguinte e avisa-a que vai voltar e comprar todas as canecas da loja até ela aceitar o seu convite.
À sétima sétima caneca, a visita dele já é a parte mais divertida do dia.
Conversam, riem, ele pergunta-lhe se é hoje, ela pensa por que não?, e aceita o convite.
Passou quase um ano, ele convence-a a viverem juntos, e, mais uma vez, ela pensa por que não?, e concorda.
Então ele diz, já que vamos viver juntos, casa comigo, e oferece-lhe um anel,
E ela, que já nem se lembra por que veio viver para Lisboa.
Leva a mão à boca, emocionada e feliz, e diz que sim, por que sim.
PRENDA DE NATAL
Há uns tempos fui informado pela professora da Carolina, num tom de voz grave e ligeiramente chocado, que a minha própria filha tinha dito na sala de aula que eu era - e cito - "um totó".
É um facto indesmentível mas que fica mal enunciar em público, e que me obrigou a uma longa conversa com ela sobre a importância das brincadeiras domésticas permanecerem dentro de casa.
Debalde. As crianças de sete anos não costumam estudar Ha-bermas (uma pena), e portanto desconhecem a diferença entre espaço público e espaço privado: contam na escola o que não devem e usam certas liberdades linguísticas onde deveria imperar o protocolo.
A sua actual declaração-choque favorita é garantir a toda a gente que gosta mais da mamã do que do papá.
O problema não está em gostar mais da mãe do que do pai - uma mera demonstração do seu impecável bom gosto -, mas em pôr-se a dizê-lo em todo o lado, incluindo a pessoas que não conhece de lado algum.
Perante isso, dei por mim a pensar se não andaria a abusar do meu cruzamento, meio esquizofrénico, de pai chanfrado com polícia mau, que tanto está a fazer figuras de palhaço como a gritar com os filhos por eles não se saberem comportar com dignidade.
Às tantas - concluí -, a Carolina descobriu que tinha um maluco dentro de casa a quem tinha de chamar pai e resolveu apostar todas as suas fichas afectivas na mãe, que é quem lhe dá segurança.
E já andava eu a pensar transformar-me num pai mais sério e ponderado quando a mãe me contou que a Carolina lhe tinha dito que me queria comprar uma bicicleta no Natal.
"Uma bicicleta?", perguntei eu, "Sim, ela ouviu-te dizer há uns meses que querias uma bicicleta e desde então ficou com essa ideia na cabeça.
A Carolina sabe que é uma coisa muito cara mas diz que quer dar todo o dinheiro que poupou nas semana-das ao longo do ano," "Isso é muito simpático da parte dela", disse eu.
Mas, afinal, ainda era mais simpático do que supunha. "A Carolina", acrescentou a mãe, "disse-me:'mamã, o papá acha que eu gosto mais de ti do que dele, e se eu der todo o meu dinheiro para lhe comprar a prenda de Natal ele vai perceber que não é assim',"
Isto é tão bonito que chega a ser foleiro.
Eu sei que há fortes probabilidades de a minha filha continuar a desrespeitar-me em público.
Mas aquela frase foi a melhor prenda que eu recebi neste Nata.
A MULHER QUE NÃO GOSTAVA DO NATAL!
Era uma Mulher bela, sábia, desconfiada, faladora, teimosa, vidente do futuro e guardiâ de esplendorosas
memórias.
Era uma Mulher crente em Deus e no menino Jesus, mas que não gostava do Natal.
Era uma Mulher descrente nas prendas e nos mimos que só se dão pelo Natal - sabia que a prospriedade nunca é eterna e, com a idade, deu em ficar cada vez mais poupadinha.
Era uma Mulher doce que se tornava amarga ao confrontar-se com a hipocrisia e a mentira - ela que mentia aos seus para lhes poupar infortúnios e aos outros para os punir.
Era uma Mulher de armas e de braços fortes que achava que só ela podia fazer bem feito - ela que
detestava as comezainas do Natal e que, aos domingos, fazia o melhor cozido à portuguesa do Mundo.
Era uma Mulher que nunca se calava e que vencia sempre, nem que fosse pelo cansaço dos outros.
Era uma Mulher que pensava alto, ria alto, ralhava alto e sofria baixinho, cada vez mais baixinho.
Era uma Mulher curiosa, demasiado curiosa, de olhinhos saltitantes que se fecharam ainda brilhantes de curiosidade.
Era uma Mulher radical, conservadora, chata, aberta à vida e ao futuro, e que sombreava o olhar quando se recordava da mãe velhinha e já senil a perguntar-lhe por que é que ela, já Mulher, havia cortado as tranças.
Era uma Mulher pensativa que sabia que o seu pai teve medo na hora da morte.
Era uma Mulher que tinha pena de morrer porque, afinal de contas, ainda havia tanto para fazer.
Era uma Mulher patriota que brincava com os sotaques do norte e do sul e que nunca aceitou conselhos de trokas, engenheiros, médicos ou vendedores.
Era uma Mulher alegre e contagiante que ficava triste e nervosa pelo Natal.
Era uma Mulher que gostava de mandar e de ter sido primeira - ministra.
Era uma Mulher independente num país de machos e de machistas.
Era uma Mulher astuta que não acreditava nas leis, acreditava na Justiça.
Era uma Mulher vaidosa do seu corpo e da sua cabeça.
Era uma Mulher que se arranjava para sair e não gostava que lhe tirassem fotografias na cozinha, muito menos de avental.
Era uma Mulher que, por ser Mulher, perdeu o seu lugar em outros voos.
Era uma Mulher que gostava de ser Mulher e devia ter nascido Homem.
Era uma Mulher que não gostava do Natal..
Era Natal!
Era Mãe!
Podia ser Portugal.
Eu cheguei primeiro, declara ele.
Como chegou primeiro?!, exclama ela, indignada.
É simples, explica-lhe,cheguei ao balcão primeiro e apresentei o bilhete.
Disparate, reage ela, estamos em igualdade de circunstâncias. Ah, sim? Então, como resolvemos isto?, pergunta ele, dirigindo-lhe um sorriso cínico que a deixa ainda mais irritada.
Tiramos à sorte dispara ela, a voz sai-lhe com a entoação perfeita de quem diz o óbvio.
Calma, senhores, interrompe-os a hospedeira incrédula, ainda temos dois lugares vagos e, se não aparecer mais ninguém, podem ir os dois.
Esperam cada um para o seu lado.
Ela, acabrunhada, virada para a janela panorâmica que deixa ver a pista.
Ele, voltado para a sala, rezando para que não venha mais ninguém.
Finalmente, a hospedeira informa-os de que podem entrar.
Não há lugares marcados e os dois últimos livres ficam lado a lado.
Ele olha para ela, encolhe os ombros, ela suspira.
Ele faz-lhe sinal com a mão para a deixar sentar-se primeiro.
Prefiro este, diz ela, apontando para o lugar da coxia.
Eu sou maior, argumenta ele, as minhas pernas não cabem no meio.
Ela faz um gesto que significa que não vai discutir mais e esgueira-se para a cadeira do meio.
Obrigado, agradece-lhe num tom conciliador.
Senta-se, alarga a gravata, desaperta o botão do colarinho.
Preciso mesmo de estar em Lisboa hoje, afirma, enquanto aperta o cinto de segurança com gestos precisos.
Ela, às voltas com o seu, furiosa por não ser tão destra, ergue as mãos num silêncio tenso quando ele a tenta ajudar.
Ele recolhe as suas, cruza os braços.
Não lhe ocorreu que eu também posso precisar de estar em Lisboa hoje, ouvea-a dizer entredentes.
O avião corre pela pista, ergue-se no ar.
Fazem a viagem em silêncio.
À chegada, deixam o aparelho e, como não têm mais do que a bagagem de mão, dirigem-se directamente para a saída do aeroporto.
Apressam-se ambos para a praça de táxis onde chegam ao mesmo tempo.
Só há um disponível, mas ele está à frente.
Abre a porta do automóvel, vira-se para trás, surpreende-a a olhar para o relógio aflita e sente-se penalizado.
Podemos partilhar o táxi, se quiser, oferece.
Não é preciso, eu espero, responde orgulhosa.
Venha lá, insiste com boa-disposição, deixo-a escolher o lugar.
Ela encaixa a piada, dirige um olhar de relance para o ar a sorrir, encolhe os ombros e entra no carro.
Quando o táxi arranca ele admite que foi indilicado com ela, mas não sou sempre assim, diz.
E depois apresentam-se e põem-se a tagarelar, ele a perguntar-se se irá conseguir o seu número de telefone, ela a pensar que afinal ele até é simpático.
breveshistorias.
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